Índico Magazine, 09 de abril de 2024 — A FRELIMO, partido no poder em Moçambique desde a independência, está novamente sob os holofotes — desta vez, por conta de duras críticas vindas de dentro da própria casa. Óscar Monteiro, uma das figuras históricas mais respeitadas da luta de libertação, decidiu romper o silêncio e lançar um alerta sério: há camaradas que estão a transformar o Estado num negócio privado.
Num discurso explosivo durante uma sessão do Comité Central, Monteiro não poupou palavras ao afirmar que o partido se tornou uma verdadeira “fábrica de ricos”, onde alguns dirigentes acumulam fortunas sem qualquer explicação plausível.
"O partido transformou-se numa máquina de produzir milionários. Há camaradas que entram no governo com uma mão à frente e outra atrás e, em poucos anos, aparecem com empresas, quintas e contas bancárias que não conseguem explicar", acusou o veterano.
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Guebuza reage com frieza: "Quem vive de passado é museu"
A resposta mais marcante veio de Armando Guebuza, antigo Presidente da República, diretamente visado pelas críticas. Sem perder a pose, Guebuza atirou uma frase curta, mas carregada de significado:
"Quem vive de passado é museu", declarou, numa aparente tentativa de descredibilizar Monteiro e desviar o foco da denúncia.
A frase deixou o plenário em silêncio — não apenas pela força simbólica, mas pelo peso da tensão interna que já não se consegue esconder.
Nyusi em silêncio: Um tabu intocável?
Curiosamente (ou não), o Presidente Filipe Nyusi não se pronunciou. O silêncio do atual líder da FRELIMO foi interpretado por analistas como um sinal claro de que o tema do enriquecimento ilícito continua a ser um tabu — algo que nem mesmo os altos escalões do partido querem enfrentar de frente.
Monteiro, por outro lado, manteve-se firme e foi além:
"Não podemos ser cúmplices de camaradas que usam o Estado como negócio privado", insistiu, apelando a uma “limpeza ética” urgente dentro do partido.
Corrupção, escândalos e o desgaste da imagem partidária
Estas declarações surgem num contexto já delicado, em que a imagem da FRELIMO está abalada por vários escândalos de corrupção — o mais notório sendo o das "dívidas ocultas", que ainda pesa fortemente na memória coletiva do país.
A divisão entre os que defendem uma renovação ética e os chamados "barões do partido" é cada vez mais evidente. E a população moçambicana, cansada de promessas não cumpridas, observa tudo com crescente ceticismo.
E agora?
Com as eleições gerais no horizonte, o debate interno reacendido por Monteiro promete agitar ainda mais os bastidores políticos. A grande pergunta é: as denúncias levarão a mudanças concretas ou serão engolidas pela máquina partidária?
O que é certo é que a voz de Monteiro, firme e inquieta, veio lembrar que a luta pela ética e pela justiça social ainda não acabou — e que, mesmo dentro da FRELIMO, há quem se recuse a aceitar o silêncio como resposta.
Redação: Índico Magazine ||
Fonte: Canal de Moçambique|| Siga o canal 🌐 Índico Magazine 🗞️📰🇲🇿 no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VafrN6E8aKvAYGh38O2p