Caso reacende debate sobre liberdade de expressão, anonimato digital e repressão estatal em Moçambique
Wilson Matias, jovem detido pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) em 31 de janeiro, foi libertado esta semana. Apontado como o homem por trás do pseudônimo “Unay Cambuma” — figura controversa das redes sociais — Wilson ganhou destaque após surgir na imprensa visivelmente debilitado e advogados denunciaram tortura sob custódia policial.
Segundo relatos, ele foi submetido a violência física, incluindo a brutalidade de ser agrafado nas partes íntimas, para forçá-lo a confessar ser o autor das denúncias que abalaram figuras da elite política moçambicana. A denúncia levantou sérias preocupações em organizações de direitos humanos, que pedem agora investigações independentes.
Quem é Unay Cambuma?
A identidade de Unay Cambuma é envolta em mistério. Surgido em 2016 como um perfil anônimo nas redes sociais, rapidamente ganhou notoriedade por divulgar conteúdos sensíveis sobre o terrorismo em Cabo Delgado, corrupção e bastidores do poder político no país. O impacto foi tão grande que o próprio antigo Presidente Filipe Nyusi, numa reunião do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, teria questionado quem estaria por trás do nome.
Apesar da suspensão da página original, o pseudônimo ressurgiu em 2022, com novos administradores, mantendo a linha crítica e investigativa. Foi justamente esse reaparecimento que levou à detenção de dois jovens em janeiro de 2025, acusados de gerirem novas páginas com o mesmo nome.
A detenção de Wilson e o uso político do pseudônimo
O caso de Wilson Matias é um dos mais recentes envolvendo o nome “Unay Cambuma”. Mesmo sem provas concretas de que ele era o autor das publicações originais, a sua prisão foi amplamente divulgada pelas autoridades como uma grande operação de segurança digital. No entanto, a realidade pode ser mais complexa.
Diversos analistas defendem que Wilson foi vítima de uma ofensiva contra o anonimato na internet, numa tentativa de dissuadir futuros denunciantes e críticos do regime. A adoção do pseudônimo por diferentes jovens gerou uma espécie de "efeito dominó", onde qualquer pessoa associada ao nome se torna automaticamente um alvo de investigação e repressão.
Liberdade de expressão em xeque
A libertação de Wilson reacende um debate crucial: até que ponto o Estado pode e deve intervir na internet? E como garantir que essa intervenção não se transforme em perseguição política?
Organizações civis e defensores da liberdade de imprensa têm denunciado o uso excessivo de força contra vozes críticas e pedem por reformas que protejam os direitos digitais dos cidadãos moçambicanos.
Para muitos, Unay Cambuma representa mais do que uma pessoa: é um símbolo de resistência e contestação num país onde os limites entre segurança nacional e repressão política se tornam, por vezes, perigosamente difusos.
Linha do tempo do caso Unay Cambuma
- 2016: Surge o perfil “Unay Cambuma” nas redes sociais, com denúncias sobre terrorismo e corrupção.
- 24/02/2016: Presidente Nyusi questiona oficialmente sobre a identidade do perfil.
- 2022: Nome reaparece em novas páginas no Facebook, com novos administradores.
- 31/01/2025: Dois jovens e Wilson Matias são detidos pelo SERNIC em Maputo.
- Abril/2025: Wilson Matias é libertado após denúncias de tortura sob custódia.
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Redação: Índico Magazine || Siga o canal 🌐 Índico Magazine 🗞️📰🇲🇿 no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VafrN6E8aKvAYGh38O2p